A criança como cidadã do presente, não do futuro. A criança com direito a conteúdos de qualidade que espelhem o seu mundo. A criança na exposição de arte que não a subestima.
Passaram por esses tópicos as falas no 9º Encontro Nacional de Cinema Infantil de sábado (29), no CIC. Prestigiaram o evento mais de 50 gestores culturais de diferentes cidades catarinenses. Eles ganharam, ao final, kits que os permitirão reverberarem a mostra por Santa Catarina.
O tema de ontem foi cultura e infância. Os especialistas que o abordaram são criadores de eventos que demonstram, na prática, a qualidade cultural que defendem ao falar. Karen Acioly idealizou e dirige o Festival Internacional Intercâmbio de Linguagens, FIL, que mistura espetáculos teatro, dança, circo e música de diferentes países e este ano vive sua 11ª edição; Beth Carmona é diretora do ComKids, iniciativa que promove e produz conteúdos para crianças e adolescentes; Evandro Salles foi curador da exposição Arte para crianças, que reuniu 400 mil pessoas ao passar por seis capitais brasileiras entre 2007 e 2010. A mediação foi de Luiza Lins, criadora e diretora-geral da Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis.
Evandro considerou Arte para crianças “um caos maravilhoso”. Nunca fizera nenhuma curadoria para crianças antes, mas a experiência foi tão positiva que agora ele programa para o ano que vem outra “experiência de arte”.
Arte para crianças se propôs uma exposição de natureza não didática. “A arte precisa de um processo educacional para ser experimentada?”, perguntou Evandro na exposição de ontem. Seu objetivo é tirar da arte contemporânea a fama de inatingível – “é um universo absolutamente aberto”, diz. No fim, com a sua curadoria de Arte para crianças ele buscou a “potência poética como formadora e transformadora da visão de mundo”. A criança seria o público ideal para a mostra por não carregar ideias prontas em relação à arte.
Além de dirigir o ComKids, Beth Carmona, com vasta experiência em conteúdo audiovisual para crianças e adolescentes, idealizou o edital Curta Criança, em 2004. Sua cisma era a de que as crianças precisavam se ver mais projetadas, porque isso dá identidade cultural e gera reconhecimento e orgulho do seu próprio espaço. “[Nos últimos anos] a criança brasileira começou a ver nas telas a criança brasileira”, afirmou, destacando a exibição na mostra, na sexta, de O sumiço da coroa, curta de Florianópolis que traz como atores os moradores da Lagoa da Conceição.
Beth apontou pontos que considera essenciais para a busca de qualidade na produção de conteúdo para crianças. Ressaltou, entre outras coisas, a necessidade de “reconhecer diferentes faixas etárias do desenvolvimento infantil”; saber contar “boas histórias, coerentes, fortes e repletas de valores e ética”; buscar qualidade estética, variedade de gêneros, formatos criativos que estimulem a criança e a convidem a resolver problemas e enfrentar situações.
Karen Acioly frisou o lado experimental do FIL, que promove, por exemplo, ensaios criativos com equipes de diferentes países. “O interessante é provocar o encontro com o outro, [criar] a relação de buscar o que a gente nem sabe que procura”, disse, destacando a seguir também a importância da mostra de Florianópolis nesse sentido.
Foi de Karen, autora de inúmeras peças e livros de temática infantil, o lembrete de que a criança não é cidadã do futuro, mas cidadã desde o momento em que nasce.
(Fotos: Henrique Pereira)