“Não tem essa de isso é coisa de menino. Menina pode tudo, até mandar rima”, disse MC Soffia enquanto cantava no Palquinho da Mostra, no último sábado, dia 9. Com apenas 12 anos, Soffia canta rap, joga futebol e já tirou o primeiro lugar num torneio de skate. Ela traz em suas rimas o empoderamento feminino e o orgulho de ser negra.
Aos seis anos, a menina começou a cantar e colocar em prática o aprendizado das oficinas de hip hop. Aos sete, umas de suas músicas viralizou no youtube. “Acho legal que minha mensagem está sendo passada, mas muita gente ainda não sabe da importância de falar desses temas. Continuo nessa luta para que todas as crianças se aceitem e se gostem”, diz ela.
“Somos mulheres, sempre, com certeza. Somos lindas, fortes, fortaleza”, diz uma das músicas da cantora que tem como inspiração as empoderadas Beyoncé, Karol com Ka, Stefany, Tássia Reis e as Divas do Hip Hop. As letras são criadas a partir de reflexões do cotidiano, com a ajuda das avós paterna e materna, das tias e da mãe Camila Pimentel, ativista do movimento das mulheres negras.
“O sistema dita um modelo de vida para mulheres e eu desde sempre tive atitudes contrárias. Passei a despertar para o feminismo quando engravidei da Soffia aos 18 anos. Geralmente as mulheres casam e constituem famílias, eu não segui essa regra. Foi o meu primeiro ato feminista empoderado”, conta Camila integrante do Fórum das Mulheres Negras.
A ativista revela que sempre deixou Soffia livre para brincar do que quisesse. Assim como não existe brincadeira de menina e de menino, para Camila não há diferenciação nos papéis de pai e mãe. “Eu sempre dividi as responsabilidades com o pai dela”, afirma.
O racismo e o machismo são temas frequentes das músicas de Soffia não pó acaso. Mãe e filha sentem o peso de serem mulheres negras numa sociedade discriminatória. “Na pirâmide de privilégios, a mulher negra é a última. Queremos igualdade”, afirma Camila.
“É uma apresentação necessária e bonita que combina com o conteúdo da Mostra, com os valores e reflexões que ela propõe”, afirma a funcionária pública Ana Paula Cardoso Silva, ao lado da filha Clara de 10 anos.
A professora universitária Cristiane Mare da Silva conta que recentemente pediu à professora dos filhos para inserir a música da MC Soffia na abordagem em sala de aula. Para Cristiane, que também é ativista do movimento das mulheres negras, o show tem o poder de sensibilizar meninas brancas a prestarem atenção em pessoas invisibilizadas “Tivemos a oportunidade de ver crianças brancas e negras na mesma apresentação. É uma forma de dizer que as pessoas negras podem frequentar esses espaços”, afirma.
“Fiquei apaixonada quando ouvi a música dela pela primeira vez. Eu a amo, porque ela é negra, bonita e sincera”, disse a fã Nina Bellucci Paulino de 7 anos. Para Nina, Soffia é importante para as crianças porque ela valoriza o lugar de onde veio e mostra que o racismo não é legal. “Os negros vieram da África e merecem respeito porque são seres humanos. Eles sofreram muito, precisamos valorizá-los”, diz.
Batalha das Minas
Depois da apresentação da MC, as rappers da Batalha das Minas subiram ao palco para a disputa de improvisação de rimas com temas especialmente dedicados à infância.
MC Mika ganhou sua primeira disputa nessa edição especial da Batalha. “A infância é o período para influenciar e transferir os conhecimentos. Trazemos tudo da infância”, diz a rapper sobre a inclusão da batalha na Mostra.
A Batalha das Minas acontece todo sábado, às 18, no centro de Florianópolis.
Fotos: Kélen Oliveira