O mercado foi o tema do 4º Encontro Nacional de Cinema Infantil, realizado neste sábado, 28 de junho, como parte da programação da 7ª. Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis. Programadores, investidores e profissionais do setor debateram com agentes do governo a realidade brasileira e políticas públicas que poderiam fomentar a produção nacional.
Pela manhã os participantes conheceram, através da participação de Annette Brejner, diretora do Fórum de Financiamento do BUFF FilmFestival de Malmö, na Suécia, e do produtor Lennart Ström, que por 25 anos dirigiu o BUFF, o que os países escandinavos têm feito para fortalecer o cinema infantil.
A perspectiva de co-produção internacional de filmes brasileiros ganhará um passo concreto neste domingo, 29, quando sete projetos participarão de um pitching – processo seletivo em que cada representante defende o seu filme. O vencedor participará de um fórum de financiamento em março de 2009 na Suécia. O pitching já é utilizado por algumas emissoras como o Canal Futura para selecionar produções infantis para sua grade de programação. A TV Brasil cogita também utilizar esse modelo de seleção e a Ancine pretende adotá-lo em seus próximos editais.
À tarde os participantes do encontro apresentaram números e perspectivas para o Cinema Infantil. O comportamento e as expectativas da audiência foram discutidos, bem como a avaliação da oferta e da procura e possíveis modelos de negócio para estimular a produção.
Confira alguns trechos selecionados das intervenções dos participantes:
Ana Paula Santana (Secretaria do Audiovisual)
Ela destacou que o edital “Curta Criança” deu impulso à produção e que as tevês começam a ter consciência de que o segmento infantil merece mais atenção. A Programadora Brasil faz parte dessa política de difusão da produção nacional para espaços não-comerciais. Política de co-produção: junto com APEX, a Secretaria do Audiovisual vai realizar o Seminário de Produção Internacional para identificar iniciativas que podem dar certo para levar mais produções nacionais ao exterior. “No cinema infanto-juvenil temos apenas dois eventos no país”, disse. “A Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis é o primeiro e principal espaço criado no Brasil focado a essa produção para ampliar e aprofundar o debate sobre o conteúdo da produção infantil”.
José Araripe (TV Brasil)
Destacou a intenção da emissora de dar mais espaço à produção independente e regional e que já é uma tendência da TV Brasil privilegiar o segmento infanto-juvenil. Um pacote de editais será lançado em breve; um deles prevê uma série de 52 capítulos para crianças. “O produto vai pertencer ao produtor, que vai ceder os direitos de exibição para a emissora. Isso é algo inédito”. Sugeriu que o espaço criado pela Mostra se torne um encontro permanente, por meio de um fórum virtual para discutir essas questões. A diretora da Mostra, Luiza Lins, lembrou da importância de se lançar um edital de longa para crianças e colocar dentro das estatais uma cota para produções de filmes infantis.
Rodrigo Albuquerque (ANCINE)
“A grande novidade que temos agora é a implantação efetiva do Fundo Setorial do Audiovisual vai permitir trabalhar com linhas específicas, porque dentro das leis de incentivo ficava difícil direcionar a verba para o audiovisual. Todos os anos um plano será criado e avaliado pelo comitê gestor, que pode decidir se vai ser produção infantil, co-produções internacionais ou produções para televisão”.
Luana Almeida (Diler & Associados)
Afirmou que o mercado para cinema infantil no Brasil é promissor, mas que é preciso investir mais na ampliação do número de salas no interior, pois somente 8% dos municípios do país têm salas de cinema e a maioria está concentrada nos grandes centros urbanos.
“Dos 30 filmes nacionais mais assistidos nos últimos 12 anos, nove são infantis”.
“Temos feito pesquisas com crianças, para entregar a elas aquilo que elas querem ver”.
Cadu Rodrigues (Globo Filmes)
Os filmes exibidos na TV Globo a cada ano vai aumentando: “Em 2006 exibimos sete, em 2007 foram dez. Estamos fazendo co-produções. Uma delas é com o longa Minhocas, que está sendo produzido em Florianópolis. Também temos parceria com o Tainá 3.” Pesquisa recente realizada pela Globo Filmes que mostra que metade da população de regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e São Paulo nunca foi a uma sala de cinema. A falta de hábito é a grande causa disso, não a questão financeira. A maioria do público que vai ao cinema tem menos de 22 anos.
Mário Sérgio Cardoso (TV Rá-Tim-Bum)
O setor que mais cresceu e está se adequando à produção para TV é o setor de animação. Uma pesquisa da Associação dos Supermercados de São Paulo informa que 85% das mercadorias que entram no carrinho são influenciadas pelas crianças e 44% destas estão presentes na hora da compra. “Temos critérios e cuidados para compor a programação da TV. É muito mais difícil produzir para crianças. O que era considerado inocente há 15 anos atrás hoje não é mais”. Citou exemplo da vinheta da primeira série do Rá-Tim-Bum, em que aparecem crianças nuas correndo para o banheiro: “Quando essa vinheta foi reapresentada há pouco tempo nós recebemos mais de 70 e-mails dizendo que aquilo era um absurdo, um estímulo à pedofilia”. Destacou que os principais agentes formadores das crianças são os pais: “Hoje os pais passam duas horas por dia com os filhos e esses ficam de três a quatro horas na frente da televisão”. A TV Cultura tem oito horas diárias de programação diária infantil.
João Alegria (Canal Futura)
Lembrou uma frase emblemática Revista Cinearte, utilizada de 1926 a 1942: “Todo filme brasileiro tem que ser visto”. Disse que o processo de seleção para a grade do Canal Futura é realizado através de pitching. “A vantagem de um pitching é que conseguimos nos manter em dia com o meio e surgem idéias muito válidas de parceria criativa”. Citou dois exemplos de cooperação: o apoio a Garoto Cósmico, lançado no ano passado na Mostra de Florianópolis, com o desenvolvimento de um conjunto de subprodutos para o lançamento e divulgação; e com o grupo musical Palavra Cantada: “Fechamos todas as apresentações do grupo para exibir no canal. Hoje os músicos recebem e-mails de todo o país, que repercutem essas exibições e assim se abre uma perspectiva de contatos que até então não existia”. O Canal Futura exibe nove horas de programação infantil por dia.
Galeria de fotos: 4º Encontro do Cinema Infantil – 28/06/2008
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