Em entrevista, a diretora geral do evento fala da curadoria dos filmes que tem como protagonistas crianças negras e de outras etnias
A Mostra de Cinema Infantil completa 19 edições neste ano. A frente do evento está a diretora geral, Luiza Lins, que mantém vivo o projeto de inclusão social e educação através do cinema infantil brasileiro e internacional. O evento que sempre reuniu crianças, adultos e cineastas em um mesmo ambiente com programações super diversas e bate-papos agregadores, neste ano precisou ser reformulado por conta da pandemia do coronavírus.
Mesmo com os novos desafios, não faltou vontade de fazer acontecer e a Mostra invadiu o ambiente virtual. A programação pensada aborda questões fundamentais dos direitos humanos que retrata muito bem as discussões levantadas neste ano atípico. Apesar da internet ser um canal capaz de atingir muito mais pessoas, nem todas crianças têm acesso a ela e foi pensando nessa questão que Luiza Lins foi atrás de uma parceria com a Secretaria de Cultura para que os filmes e curtas sejam transmitidos pelo canal aberto da TV Câmara.
Nesta entrevista, a diretora conta sobre os desafios em transformar a Mostra para o digital e muito mais! Confira:
Quais desafios enfrentados em fazer a mostra em um ano pandêmico?
A Mostra esse ano é uma Mostra muito diferente. Tivemos que criá-la em um ambiente virtual e foi um grande desafio. Como transportar uma Mostra que era presencial, com muitas crianças, família, ambiente alegre, intenso e amoroso para o ambiente virtual? A gente quis trazer um pouco disso para as telas. Os festivais estão deixando os filmes disponíveis, mas pra mim isso é muito pouco, então criamos uma programação que está em contato o tempo inteiro com o espectador. Criamos 4 lives diárias, de manhã para professores, duas lives à tarde para crianças e uma à noite para realizadores. As lives da tarde são sessões de curtas com bate-papo. Aliás, nós trouxemos também para esta edição os famosos bate-papos, porque quando era presencial a gente trazia os realizadores para conversarem com as crianças e agora estamos fazendo isso também no virtual o que faz a gente se aproximar do público.
Qual a importância de levar mais cultura para adultos e crianças que passaram o ano trancados em casa?
Eu sempre bato nessa tecla da importância da cultura para a criança por reforçar uma emoção da criança, de amplitude porque a criança é muito aberta, ela não tem limites, não tem preconceitos, ela é potência pura. Quando a gente mostra para as crianças livros, filmes, músicas isso tudo só reforça o que ela já tem de natural dentro dela. Agora ao contrário, se a gente não apresenta o mundo como ele é, com todas as diversidades, se não ajuda a criança a ampliar cada vez mais, se a gente não apresenta a arte, ela vai ficando muito limitada às questões que a família vive e ao seu cotidiano.
Como a programação e curadoria da Mostra foi pensada?
A curadoria da edição deste ano foi pensada para trazer a diversidade cultural do Brasil e do mundo para as crianças. A gente sempre toma cuidado para que todas elas se sintam representadas porque temos que enfrentar o racismo estrutural no Brasil, então a Mostra exibe filmes com muitos protagonistas crianças negras e de outras etnias para reforçar isso. Metade da população brasileira é negra, então a gente precisa ter essa representatividade na tela. Cuidamos também de trazer filmes de países que as crianças nunca ouviram falar ou se ouviram foi de uma forma negativa, então o Irã, por exemplo, que são os filmes de abertura a gente tem 4 curtas incríveis, poéticos e a intenção é falar “olha nenhum país é só uma coisa, tudo é muito amplo”.
A programação para os professores é uma programação que tenho muito carinho. Esse ano a gente vai fazer um workshop de cinema brasileiro para os professores porque até pelo fato de como se estabeleceu o audiovisual no Brasil os professores conhecem pouco do cinema brasileiro.
Qual a expectativa para o evento?
A minha expectativa é uma grande incógnita, eu fico pensando como é que as pessoas vão reagir a essa edição, ao mesmo tempo tomamos todos os cuidados para que todos se sintam incluídos, que consigam assistir a nossa programação porque nem todo mundo tem acesso fácil à internet e nem todos sabem manejar, usar bem a internet, então deixamos várias dicas para as pessoas conseguirem acessar os nossos filmes. Ao mesmo tempo, grande parte da nossa população, as crianças de escolas públicas não têm acesso a internet então fizemos uma parceria com a secretaria da educação para disponibilizar curtas na TV Câmara. Quando a gente vai pro online, a gente observa toda essa desigualdade que existe, então estamos tentando chegar em todo mundo.
É uma mostra que trata de questões da atualidade, de direitos humanos, de como as crianças estão reagindo a esse período de isolamento, mas também que traz um pouco de alegria, luz e esperança. Queremos transmitir a esperança, que as situações mais complexas vão passar e por isso encerramos com o show do Carlinhos Brown para colocar todo mundo bem pra cima.