Encontro Nacional: “As crianças ainda são negligenciada pelas políticas públicas do audiovisual”

Fotografia de sete pessoas sorrindo, lado a lado, em frente a um painel que anuncia a "Vígésiam Terceira Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis". Elas estão em pé, posando para a foto. À esquerda, uma mulher veste um blazer branco e saia listrada; ao seu lado, uma pessoa com camiseta cinza e casaco preto. O homem ao centro usa terno e camisa branca. As outras quatro mulheres à direita estão com roupas casuais, como blusas de manga longa e vestidos, uma delas com um cachecol verde sobre um vestido branco.


Da esquerda para a direita Aleteia Selonk, Aline Belli, Fabiano Gullane, Luiza Lins, Célia Catunda, Tatiana Costa e Patricia Barcellos

O Encontro Nacional de Cinema Infantil abriu a programação da 23ª Mostra, com a presença de importantes nomes do cinema brasileiro: do produtor Fabiano Gullane, da diretora Célia Catunda, de Patricia Barcellos (MEC e Conselho Superior de Cinema), de Tatiana Costa (presidente da Associação de Profissionais do Audiovisual Negro), de Aline Belli (comitê gestor do Fundo Setorial do Audiovisual), da diretora Aleteia Selonk e da roteirista Gabriella Mancini. A mediação foi da diretora da Mostra, Luiza Lins. Teve a presença também, nos momentos do evento, de Alexandre Gouveia Martins, coordenador do Escritório do MinC em Santa Catarina.

A discussão, junto a uma plateia que reuniu realizadores e educadores, foi sobre cinema para crianças, produção e distribuição, formação de plateia para o audiovisual brasileiro e necessidade de políticas públicas para fortalecimento do mercado. 

“As crianças, mesmo sendo 17% da população brasileira, ainda são negligenciada pelas políticas públicas do audiovisual”, disse Luiza Lins, diretora da Mostra, na abertura do evento.

Ela lembrou que o Encontro acontece desde a primeira edição da Mostra, há 23 anos, quando “não tínhamos filmes brasileiros suficientes para exibir ao longo dos 19 dias de festival”. 


Diretora da Mostra, Luiza Lins e Alexandre Gouveia Martins, do Minc

A realidade mudou, mas avanços são necessários, tendo em vista a dificuldade de produzir no Brasil. Gabriella Mancini é roteirista de cinema e TV, professora de roteiro e script doctor e atua há mais de 15 anos no mercado. Jurada em vários concursos no Brasil, ela destaca que a competição é desigual entre produções para adultos e produções de crianças nos editais no país. “Especialmente por preconceito, porque o cinema para crianças é visto com algo menor”, lamenta.

Uma mulher de pele clara está sentada, segurando um microfone com a mão direita e sorrindo. Ela tem cabelo liso e escuro, veste uma blusa preta com um blazer branco e calça listrada em preto e branco. Ao fundo, há uma tela projetada com ícones de redes sociais e partes de um logotipo visíveis, sugerindo que ela participa de um evento ou palestra.

Aleteia Selonk

Em contraponto, Alexandre Gouveia Martins, do Minc, disse no início do Encontro que “as políticas para cinema para infância precisam ter absoluta prioridade, porque constroem cidadania e promovem formação de plateia”, sinalizando desejo do Governo Federal neste sentido. 

“A formação de público, que fica numa zona periférica da discussão de mercado, precisa estar no centro”, afirma Aleteia Selonk, da Okna Produções, que apresenta Uma carta para Papai Noel na primeira sessão Longa Nacional da Mostra, no sábado (12), às 14h.

Complexidade do mercado e a busca por fortalecimento

Três mulheres estão sentadas em cadeiras. A mulher à esquerda segura um microfone e fala, sorrindo. Ela tem pele clara, veste uma blusa cinza com casaco preto e calça jeans, e usa uma tiara vermelha no cabelo. Ao centro, uma mulher negra de cabelo crespo e volumoso, com óculos de armação escura, veste uma blusa branca com cachecol verde e sorri, observando a conversa. À direita, outra mulher de óculos e blusa azul observa, sorrindo. À sua frente, sobre uma mesa, há três garrafas de água e copos de plástico. O fundo é escuro.

Aline Belli

São várias as camadas para consolidar o mercado de audiovisual no Brasil. Aline Belli, produtora executiva em séries originais da Belli Studio como Esquadrão do Mar Azul, Tuca o Mestre Cuca e Boris e Rufus, menciona a importância da promoção, por meio da comunicação, das narrativas brasileiras com qualidade e afetividade (que conecta com as crianças). Segundo ela, isso é feito por empresas de fora muito bem. “Os personagens são os amigos das crianças. Empresas de fora estão fazendo isso e ocupando esses espaços”, pontua, questionando: “como vamos construir uma indústria se as nossas propriedades não ficarem no Brasil? A gente precisa conectar todas as pontas. A gente precisa de formação, produção, das telas, de tudo”, ressalta.

Sobre oportunidade de formação profissional, Patricia Barcellos destaca: “100 novos institutos federais serão abertos no país e três deles estarão em SC. Serão feitas audiências públicas para definir os cursos dos novos institutos”, diz ela, lembrando ser oportunidade para ampliar espaço de formação profissional para trabalhadores do audiovisual. 

Desafios e políticas públicas 

Uma mulher negra sentada segura um microfone com a mão direita enquanto sorri. Ela tem cabelo crespo e volumoso, usa óculos de armação escura, veste uma blusa branca e um cachecol verde. Sua mão esquerda repousa sobre o colo, segurando papéis. Duas garrafas de água estão em uma mesa à sua frente, no canto inferior direito da imagem. O fundo é escuro, destacando a figura da mulher.

Tatiana Carvalho Costa

“A gente está entregando o imaginário brasileiro a preço de troco de bala para as plataformas de streaming”, diz Tatiana Carvalho Costa, professora, pesquisadora e curadora em Cinema e Audiovisual, Presidente da APAN – Associação de Profissionais do Audiovisual Negro.

Ela explica que as produtoras brasileiras acabam precisando entregar suas histórias e perdem o direito econômico de suas obras, o que fragiliza o mercado nacional, uma vez que o dinheiro sai do país com as coproduções necessárias para viabilizar a realização de filmes. 

“Vivemos um momento esquizofrênico. O Governo quer bancar vários avanços, mas o Congresso Nacional não. Estamos numa luta com o Congresso, que representa o retrocesso”, relata Tatiana.

Regulamentação da Lei 13.006/2014

Uma mulher de pele clara está sentada, segurando um microfone com a mão direita e sorrindo enquanto fala. Ela usa óculos de armação clara, uma blusa azul e um colar com pingente em formato de folha. Sobre uma mesa à sua frente, no canto inferior esquerdo da imagem, há três garrafas de água e copos de plástico. O fundo é escuro, destacando sua figura.

Patrícia Barcellos

A gestora e educadora Patrícia Barcellos, do MEC e do Conselho Superior de Cinema, trouxe números que causam reflexão: são 47 milhões de pessoas na educação básica (crianças matriculadas) e 178 mil escolas. “E quantas salas de cinema a gente tem?”, pergunta.

“Estamos chegando às 3.500. Então a gente tem que pensar no tamanho é que é regulamentar a lei 13.006 nas escolas, tanto nas que usam IA (Inteligência artificial) quanto nas que estão lutando para construir um refeitório”, afirma. 

A Lei 13.006 prevê que a exibição de filmes de produção nacional constituirá componente curricular complementar integrado à proposta pedagógica da escola, sendo a sua exibição obrigatória por, no mínimo, 2 (duas) horas mensais.

Célia Catunda e Fabiano Gullane na abertura do Encontro

Fotografia de uma mulher sorrindo enquanto fala ao microfone. Ela está sentada e veste uma blusa preta com colar, segurando o microfone com a mão direita. Em sua frente, há várias garrafas de água sobre a mesa. O fundo é escuro, destacando sua figura.

Célia Catunda

Dois grandes realizadores do cinema brasileiro, que trabalham com cinema infantil, apresentaram filmes que em breve estreiam. Na tela do Cinema do CIC, foram mostrados os bastidores dos trabalhos.

Célia Catunda, da produtora Pinguim, mostrou o work in progress de “Meu avô é um Nihonjin”, em fase de pós produção e lançamento previsto para julho de 2025. É um filme de animação 2D que fala sobre imigração japonesa, com tramas que se passam nos anos 1940 e outra nos anos 1980. O filme é inspirado nas obras do artista Oscar Oiwa. Célia é diretora de filmes como “Peixonauta” e “Tarsilinha”, inspirado na obra da conhecida Tarsila do Amaral. 

Fotografia de um homem falando ao microfone durante um evento. Ele está sentado, vestindo terno preto e camisa branca, e segura papéis na mão esquerda. Ao fundo, uma mulher desfocada, com a mão no queixo, o observa com uma expressão atenta. O fundo escuro realça a cena.

Fabiano Gullane

Fabiano Gullane, da Gullane Filmes (SP/RJ – Brasil e Itália), falou da Arca de Noé, dos diretores Alois Di Leo e Sérgio Machado, que será lançado em novembro deste ano. Valorizando o evento, ele disse no início de sua fala: “preciso agradecer a todos os apoiadores desse evento importantíssimo que fala sobre cinema para novas gerações”.

Inspirado nas músicas de Vinicius de Moraes, Arca de Noé conta a história bíblica de forma bem-humorada, com olhar crítico, contemporâneo e atencioso para minorias, que quando unidas, ganham força. Gullane conta sobre a co-produção EUA e Índia e da pré-venda do filme para mais de 60 países. “Estamos trabalhando para a nossa animação brasileira ser a mais vista no mundo”.

A Mostra começou na sexta (11) e segue a partir de 12, Dia das Crianças, até 19 de outubro com programação para todas as idades.

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Publicado em 11 outubro 2024


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