‘Encontros de Cinema Infantil’ debateu as abordagens no audiovisual para crianças nos tempos de hoje; seis diretores participaram do bate-papo desta quarta-feira (20) na 20ª Mostra
Por Juliana Rabelo
A arte é um meio de jogar luz aos debates atuais, seja na televisão, nas pinturas, nos livros e por que não no cinema infantil, não é mesmo? O segundo “Encontros de Cinema Infantil” da 20ª Mostra, nesta quarta–feira (20), abordou essa questão com seis diretores e diretoras de curtas exibidos no evento, com mediação de Melina Curi.
Participaram Camila Santana, diretora do curta Raone, Sofia Federico do curta Utopia, Maria Augusta Nunes do Nonna, Laly Cataguases do Meu Melhor Amigo, Ester Kawai do Batchan e Patricia Alves Dias do Por que não tenho um Xerimbabo?
A curadoria da 20ª Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis trouxe filmes que dão visibilidade a assuntos contemporâneos como diversidade, tempos pandêmicos, meio ambiente, questões indígenas e muito mais. Para a diretora Camila Santana não tem como mais fugir desses assuntos. “O que é o cinema atual, pós pandêmico? Quais reflexões a gente pode fazer a partir disso? Nós estamos em um momento muito delicado do planeta, uma crise brutal, humanitária, social e econômica e isso atravessa nossas crianças, então de alguma forma todas essas questões têm que estar nas telas representadas e com soluções criativas que muitas vezes tem desse encontro nosso com as crianças”.
O curta Utopia, por exemplo, toca em um tema que tem ganhado cada vez mais força nos noticiários, a questão indígena. A diretora Sofia Federico contou como decidiu trazer o assunto para o universo infantil através do audiovisual. “No dia do índio, eu me vi um tanto incomodada nas ruas de Salvador porque vi algumas crianças fantasiadas de índio e era nítido que elas tinham um pensamento pequeno sobre o indígena. Fui conversar com meus filhos e percebi que para eles os povos originários estavam muito associados à questão dos corpos nus, cocar na cabeça, isso também faz parte deles, mas eles são muito mais do que isso, então fiquei com desejo de falar sobre isso para crianças”, explicou.
Os realizadores destacaram como o processo de filmagem também precisa ser feito de forma ética, respeitando o espaço da criança, ampliando a sua voz e as deixando serem co-autoras da obra. “O compromisso ético da gente é ter a preocupação do que vai estar falando, do espaço de deixar que a criança também colabore, que ela seja a co-autora, entender que a gente faz mais do que cinema para crianças e sim cinema com as crianças”, enfatizou Patrícia Alves, diretora do curta Por que não tenho um Xerimbabo?
Termômetro do filme
O indicador se o propósito do filme foi alcançado é ver a reação das crianças. A sinceridade e os questionamentos do público infantil são o termômetro do filme. Nada passa, como revelou a cineasta Maria Augusta Nunes do Nonna que traz na obra os malefícios do uso de agrotóxicos.
“No debate com o júri infantil da Mostra, eu fiquei impactada porque as meninas trouxeram questões técnicas, falaram sobre a trilha sonora, a leitura que elas tiveram do filme. As crianças já entendem que o futuro depende disso, do cuidado com a natureza, e às vezes eu fico pensando se não era pra essas crianças estarem brincando, mas elas estão preocupadas com o que vai acontecer com o mundo, mas isso é reflexo do que fizemos de mal até agora”.
Para Laly Cataguases, do curta Meu Melhor Amigo, a reação das crianças chegou à distância. “Eu tive um retorno, um de uma criança que voltou a desenhar. A mãe entrou em contato comigo dizendo que por conta do filme o filho voltou a desenhar e desenhar o tempo todo. E uma outra que desenhou um mascote, o amigo de cartolina, fotografou e mandou pra gente”.
Mais do que assistir ao filme, é trazer à tona a reflexão dos pequenos. Como no caso de uma exibição do curta Raone, que conta a história de um garotinho livre que gosta de brincar de tudo, inclusive com bonecas. “O que escutei foi o debate entre eles sobre meninos e meninas, nesse processo de debate inclusive de embate, teve uma menina que falou para um garotinho ‘mas o que vai acontecer com a sua mão se você brincar de boneca? Suas mãos vão cair?’ e teve outro garoto que falou pra professora que queria brincar de bonecas”, revelou.
Veja o bate-papo na íntegra:
Sobre a Mostra
A 20ª Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis segue até 31 de outubro, online e gratuita, com 140 filmes, shows de música, sessões de cinema com transmissão ao vivo e bate-papo, oficinas, masterclass, Encontros de Cinema Infantil e Encontros de Mercado – mif.kids.
Confira a programação.
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