Dois projetos venceram o pitching da 8ª Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis: o brasileiro Tainá 3, da Sincrocine/Tiete (RJ) e o argentino El Inventor de Juegos, da Pampa Filmes. Nesta segunda edição do pitching concorreram seis projetos do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e Argentina.
El Inventor de Juegos participará do Cinekid (Festival Internacional de Filme, Televisão e Novas Mídias para Crianças), em Amsterdã, na Holanda, em outubro de 2009. Tainá 3 irá ao fórum de financiamento no BUFF (Festival de Cinema para Crianças e Jovens de Malmö), na Suécia, em março de 2010.
O objetivo do pitching é ampliar a coprodução brasileira e latino-americana, estimular as coproduções internacionais e o intercâmbio de ideias para o cinema infanto-juvenil.“Já é o segundo ano que fazemos o pitching, pois percebemos a necessidade de incentivar o desenvolvimento do cinema para este publico”, afirma Luiza Lins, diretora da Mostra.
Juan Pablo Buscarini, diretor de El Inventor de Juegos, acredita que o pitching dá legitimidade aos produtores no exterior. “Participar desses eventos na Europa, a partir desta seleção em Florianópolis, faz com que a gente tenha o respaldo de organizações internacionais. É uma oportunidade privilegiada e eficaz. Daqui vamos com categoria, ser ouvidos com mais atenção”.
O representante do projeto do longa Tainá 3, Ralf Tambke, entende que o pitching realizado em Florianópolis é uma troca de ideias que desperta para o potencial que o cinema brasileiro tem no mercado internacional. “O cinema é uma ferramenta para aproximar o Brasil de outras culturas e, até mesmo, gerar negócios. Com essa oportunidade da Mostra de Cinema Infantil, podemos perceber as necessidades e as demandas. As histórias que estamos fazendo têm que ser originais e devem ter alcance mundial”.
Sannette Naeyé, diretora do Cinekid, o festival de cinema infantil mais importante da Europa, diz que agora os produtores precisam aproveitar a oportunidade para criar uma rede internacional e conhecer possibilidades de coprodução. Para os projetos que não foram selecionados, a holandesa deu alguns conselhos. “É preciso treinar mais para participar dos pitchings, a primeira impressão sempre é muito importante. As possibilidades são grandes no Brasil, mas isso não é suficiente. Trocar experiências aumenta a qualidade dos projetos, do trabalho, e isso está faltando”.
A experiência de participar de fóruns de coprodução fora do Brasil é muito rica para as produções brasileiras. “A iniciativa do pitching é muito positiva, dá força para a Mostra. Acredito que mais ações nesse sentido deveriam ser realizadas para que o cinema infanto-juvenil possa, definitivamente, deslanchar no Brasil”, diz Luiza Lins.
O projeto vencedor no 1º Pitching da Mostra de Florianópolis foi Eu e Meu Guarda-Chuva, longa-metragem do diretor Toni Vanzolini, que está sendo produzido pela Conspiração Filmes (RJ). Graças à participação do diretor no fórum de financiamento do Festival de Malmö, em 2008, Vanzolini fechou uma coprodução para a finalização de áudio na Suécia.
Entrevista com Sannete Naeyé
Sannete Naeyé ressaltou qualidade dos projetos
Acompanhe a entrevista concedida pela diretora do Cinekid, Sannete Naeyé, que esteve pela primeira vez no Brasil participando da 8ª Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis.
MOSTRA: A produção de filmes para crianças na Europa é grande em alguns países (da Escandinávia, principalmente), mas insignificante em outros, como a Espanha. Por quê?
SANNETE NAEYÉ: Há uma grande diferença entre os países do oeste, do norte e do sul da Europa. A Espanha só produziu um filme de ficção para crianças nos últimos oito anos, mas fez muitas animações. Acredito ser cultural. Na França, por exemplo, as pessoas tratam as crianças como pequenos adultos. Já na Holanda e na Escandinávia, os adultos entendem que as crianças têm seus próprios pensamentos, sua própria cultura. Nos nossos roteiros, na Holanda, tentamos refletir as crianças e sua realidade.
MOSTRA: O que faz países como a Dinamarca se envolverem numa produção? O interesse dos próprios produtores ou apoio governamental?
SANNETE NAEYÉ: Ao meu ver, são governo e sociedade juntos, e isso reflete a vontade dos dinamarqueses de ter uma sociedade unida, educar as crianças. É uma política cultural. Reflete, também, o que as pessoas acreditam ser mais importante no país. A questão não é tanto a indústria, e sim mostrar às crianças diferentes histórias, novas culturas, diferentes sociedades, de uma forma que elas se sintam confortadas e respeitadas com sua própria experiência.
MOSTRA: Dentro das informações que você levantou sobre a produção cinematográfica no Brasil, e de seus conhecimentos sobre o país, como você percebe os filmes brasileiros dirigidos ao público infantil?
SANNETE NAEYÉ: Entendo que o país realmente gostaria de melhorar sua capacidade de redigir roteiros. Há mais experiência em filmagem e outras etapas da produção, mas escrever para crianças ainda não é comum. Acredito que os brasileiros gostariam muito de começar de uma forma melhor, porque se seu roteiro é ruim, não há esforços que você coloque futuramente que solucionem o começo ruim. Nem uma produção de qualidade vai conseguir tornar o filme bom.
MOSTRA: Quais suas sugestões para que a produção brasileira de filmes infantis se desenvolva?
SANNETE NAEYÉ: Eu apoio a ideia de que mais filmes de ficção devem ser feitos. Eu sei que o governo se esforça para apoiar a animação no Brasil, o que é muito interessante e precisa realmente ser incentivado. Mas histórias da vida real também devem receber apoio, embora a entrada desses filmes para outros países seja mais difícil. A animação pode ser levada mais facilmente para o exterior, pois é mais simples de dublar. No entanto, para as crianças que vivem no Brasil esses filmes sobre a vida real são importantíssimos pelos efeitos culturais, o que não pode ser alcançado somente com animação. A sociedade e o governo – ou quem quer que tenha a chave para essa questão – devem mostrar à indústria que produzir filmes para crianças tem um valor social. A indústria audiovisual é meticulosa, exigente em relação aos filmes que escolhem apoiar, embora seja fácil para eles financiarem devido aos impostos – eles podem escolher dar o dinheiro para o governo ou para a produção desses filmes.
MOSTRA: Como o governo poderia participar ativamente para ajudar a alavancar a produção brasileira?
SANNETE NAEYÉ: Primeiramente, o Brasil tem que aumentar a produção. É preciso fazer, digamos, de 8 a 10 filmes por ano. Tudo o que se faz na vida, é preciso experiência para ter habilidade. Quando se trabalha com crianças, com animais ou com animação, a experiência é essencial. Produzindo mais é possível melhorar e, assim, encontrar mais financiamento. Dessa forma, com mais experiência, é possível encontrar coprodutores, fazer contatos no exterior, vender o filme. Outro incentivo é o oferecimento de prêmios substanciais para produções audiovisuais. Na Alemanha, por exemplo, os prêmios chegam a um valor aproximado de R$ 600 mil. Com esse dinheiro, é possível investir no próximo filme, além de dar mais auto-estima para os produtores e diretores.
MOSTRA: Qual sua impressão sobre as apresentações dos seis projetos apresentados no pitching da Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis?
SANNETE NAEYÉ: Fiquei impressionada com a qualidade dos projetos. Os produtores fizeram bem seus orçamentos, apresentaram de forma profissional e esse, com certeza, é o primeiro passo. Se você falha nessa perspectiva, não tem entrada no mercado internacional. Gostei da variedade de temas. As histórias têm o drama tradicional, com uma atmosfera local. Toda a perspectiva foi muito interessante. Para mim, como estrangeira, foi muito interessante. Aprendi muito sobre o país, e acredito que a maioria dos projetos merece ser realizada.
MOSTRA: O que precisa melhorar?
SANNETE NAEYÉ: Não tornar os projetos pesados. Sempre digo que não existe algo como almoço grátis. Não há alguém com U$ 500 mil na bolsa, só esperando por alguém com uma ideia brilhante. É preciso ser confiável, conhecer o outro lado, descobrir o que se pode fazer pela parceria.