Encontros de Mercado: estratégias para produzir animação no Brasil marca segundo dia

Encontros de Mercado da 20ª Mostra de Cinema Infantil nesta quarta-feira (27) teve 4 paineis de debates sobre financiamento e coprodução no audiovisual para crianças 

Longa de animação ‘A Arca de Noé’, de Sérgio Machado é uma das grandes apostas do cinema infantil brasileiro para os próximos anos. (Foto: divulgação)

Por Juliana Rabelo

Produzir animação no Brasil atual requer planejamento estratégico. Seja na procura de bons parceiros, seja no investimento em crossmedia. Nesta quarta-feira (27), o segundo dia de Encontros de Mercado da 20ª Mostra de Cinema Infantil contou com a presença de diretores e produtores de animação e executivos(as) de plataformas digitais. Temas como financiamento, coprodução e estratégias para desenvolver conteúdo infantojuvenil foram abordados nos 4 paineis. A mediação do bate-papo ficou por conta da jornalista Flávia Guerra.

No primeiro painel, Tereza Gonzalez e Fábio Mostof, ambos da ViacomCBS International Studios contaram sobre a parceria entre a Nickelodeon e a Paramount+, plataforma de streaming que chegou há pouco tempo na América Latina. “Na Nickelodeon as crianças são as protagonistas. A Paramount+ expande mais o universo, na faixa de 7 a 14 anos e a gente busca outro tipo de animação. A Viacom tem uma busca de diversidade e inclusão. Somos um streaming novo e estamos abertos para projetos”, comentou Tereza. 

Uma grande aposta da Viacom para os próximos anos é a adaptação do livro célebre Marcelo, Marmelo, Martelo, de Ruth Rocha. O livro vai virar série disponibilizado pela Paramount+. É a primeira vez que a autora libera sua obra para uma TV. Uma das estratégias da equipe é criar produtos da marca para serem vendidos logo no lançamento da série. “Na indústria infantil tem que criar produtos é o tal do Consumer Products, pensamos no que podemos transformar da história em produtos. E aí tem um trabalho das roteiristas de pensar isso para que lancemos produtos juntos com a série”, revelou Fábio.

Primeiro painel do ‘Encontros de Mercado’ da 20ª Mostra de Cinema Infantil. (Foto: reprodução)

O segundo painel ‘A Arca de Noé, de Sérgio Machado: Financiamento e Coprodução’, trouxe à tona outra aposta de animação brasileira dos próximos anos, o longa ‘A Arca de Noé’, que parte do livro de poesias de Vinicius de Moraes. O filme é dirigido por Sérgio Machado com produção de Walter Salles.

Com um orçamento de $6 milhões, A Arca de Noé está sendo produzido em 3D pela Gullane Produções e Filmes e o Núcleo Independente de Produção (NIP), além de contar com a coprodução da Symbyosis Technologies, empresa de animação na Índia. De acordo com os produtores do longa, a ideia inicial era desenvolver o projeto 100% no Brasil, mas a pequena quantidade de produtoras brasileiras especializadas em 3D fez com que buscassem parceria no exterior.

“A pré venda internacional nos redirecionou a detalhar a estratégia de realização porque com dinheiro ficamos mais confortáveis para ousar. Hoje a gente tem uma série de produtoras 2d estruturadas no Brasil e poucas em 3D. Seria díficil fazer essa animação totalmente no Brasil e precisaríamos de ajuda. estruturamos o escopo do trabalho e pensamos a produção para delegar parte do trabalho para outros profissionais”, disse Felipe Sabino, sócio fundador do NIP.

Segundo painel contou com a presença de produtores do longa de animação ‘A Arca de Noé’. (Foto: reprodução)

O projeto está em fase de pré-produção e contou com uma série de estratégias, inclusive de uma produção descentralizada, para tirar a ideia do papel, como explicou Sabino: “Acabamos encontrando nosso par perfeito no estúdio indiano, que dividem a linha de produção de uma forma mais confortável para nós. Eles tinham estrutura de produção, mas com muito respeito por nossa liderança no processo. A parceria foi firmada em 2019. Na volta ao Brasil, buscamos parceria nacional: NIP com a Gullane montou base de operações com toda estrutura necessária, um núcleo duro de talentos que conduziriam este processo. E trouxemos três outros estúdios Hype, Kipcase e Vetor Zero, Ultrassom e Indiomusic, na parte musical do projeto”.

Disney e Tarsilinha

Se para uns o foco é o crossmedia, para a plataforma Disney+ a prioridade está em investir em variedades. A revelação foi feita no terceiro painel do Encontros de Mercado que contou com a presença de Cecilia Mendonça, VP, Content Development & Production da Disney. 

“Nos últimos dois anos, durante a pandemia, a gente vem desenvolvendo outros projetos além dos in house, abrimos para receber ideias de terceiros. Antes a gente desenvolvia tudo dentro do universo Disney. A gente deixou de produzir algo em que a gente construía um 360 e passou a investir mais em variedade. O que importa é contar uma boa história, aspiracional, que deixe uma mensagem”, explicou Cecilia.

Terceiro painel teve o tema ‘Com a palavra: Disney+’, com Cecilia Mendonça, executiva da Disney. (Foto: reprodução)

Para os roteirista interessados em divulgar trabalhos, a executiva deu uma boa notícia. “O Brasil passou a ser nosso mercado principal. Cada ano estamos produzindo mais conteúdos brasileiros. Histórias com apelo internacional. A conexão emocional deveria poder funcionar em qualquer país. As culturas podem ter elementos culturais diferentes, mas não deveria ser algo com que ninguém consiga se relacionar com isso”, afirmou.

Já no quarto e último painel, Célia Catunda e Ricardo Rozzino, falaram sobre o processo de financiamento e coprodução do longa Tarsilinha que tem lançamento previsto para o ano que vem. O filme foi todo produzido no Brasil, mas segundo Celia houve uma tentativa de coprodução com a França.

Como a Tarsila do Amaral viveu e trabalhou com vários artistas franceses, achamos que a França poderia ser um ótimo parceiro. Mas a nossa possível parceira coprodutora, quando leu o projeto, queria incluir aspectos que transformaria o filme em um projeto que não era o que queríamos fazer. Desistimos, então, de procurar uma parceria internacional. Por estas questões e também as questões orçamentárias, pois a balança comercial não favorece”.

Celia Catunda e Ricardo Rozzino falaram sobre as dificuldade e êxitos na produção do filme ‘Tarsilinha’. (Foto: reprodução)

O produtor do longa, Ricardo Rozzino, mostrou a diferença entre o orçamento inicial e final do projeto, que fechou em cerca de R$6 milhões. Ele ainda explicou de onde vieram os recursos: 31% veio da Lei do Audiovisual, 17% do Fomento ao Cinema Paulista + Proac, Fundo setorial 45 % e 7% da produtora Pinguim”.

Sobre a Mostra 

A 20ª Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis segue até 31 de outubro, online e gratuita, com 140 filmes, shows de música, sessões de cinema com transmissão ao vivo e bate-papo, oficinas, masterclass, Encontros de Cinema Infantil e Encontros de Mercado – mif.kids.

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Publicado em 27 outubro 2021


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