Entrevista com Toni Vanzolini

Diretor do filme Eu e meu guarda-chuva, Toni Vanzolini, construiu a carreira em cinema na direção de arte, onde atuou em cerca de 15 longas-metragens. Em sua estreia como diretor, o pai do José, de 8 meses, resolveu encarar um desafio extra, de enveredar pelos caminhos do filme para crianças.

Eu e Meu Guarda-Chuva é baseado no livro homônimo escrito a quatro mãos pelo “titã” Branco Mello e o palhaço Hugo Possolo. A adaptação para o roteiro esteve a cargo de Adriana Falcão, Marcelo Gonçalves e Bernardo Guilherme.

O filme ganhou há dois anos, na Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis, a primeira edição de um processo de seleção pública conhecido como Pitching, que ajuda a abrir portas no mercado –neste caso, internacional. Eu e Meu Guarda-Chuva abre a programação 2010 da Mostra, que traz em primeiríssima mão aos catarinenses o que o resto do Brasil só começa a ver a partir de outubro, quando ele chega aos cinemas do circuito comercial.

Antes da pré-estreia na Mostra, Toni aproveitou uma brecha na maratona de lançamento, que já começou, e respondeu, por e-mail, algumas perguntas ao site da 9ª MOSTRA DE CINEMA INFANTIL DE FLORIANÓPOLIS.

A estréia na direção com um longa infantil é um duplo desafio, não? Porque a opção?

Eu conhecia a história do Eu e Meu Guarda-Chuva, e achei que ela tinha potencial para um filme. Fiz uma sinopse e apresentei para alguns sócios na Conspiração. A idéia foi bem aceita. Aí começou o desafio. Sabia que seria difícil mas acreditava na idéia.

O processo de seleção que levou à escolha de Lucas Cotrim para o papel do menino Eugênio, protagonista do filme, foi exaustivo, com 1.400 candidatos. O que é que se buscava e o que chamou atenção nele?

Eu queria uma cara nova por isso procuramos tanto. O que me levou a escolher o Lucas no final foi o entendimento dele da história, e o carisma dele. Lucas é ótimo ator e a dupla com a Rafaela que faz a Frida no filme funcionou muito bem.

Três roteiristas trabalharam na adaptação de um texto escrito originalmente a quatro mãos, por Branco Mello e Hugo Possolo. Por mais detalhista que seja o roteiro, filmar é uma terceira visão do tema, não?

Filmar é sem dúvida uma visão muito particular do diretor, não tem jeito. Se outro diretor tivesse filmado este mesmo roteiro, teria feito de maneira bem diferente. O fato de eu ter trabalhado junto com os roteiristas o tempo todo facilitou um pouco na hora da realização. O roteiro é a base de tudo. Foi aonde eu fui construindo o filme na minha cabeça.

Deixar a direção de arte, sua especialidade, a cargo de outro profissional (o Frederico Pinto) é um grande exercício de “desapego”. Você deu muito pitaco nisso?

Dirigindo e produzindo eu tinha tantas outras coisas com que me preocupar que realmente não seria possível cuidar da arte também, mas ficava ligado o tempo todo, dei um monte de pitaco. Foi um “desapego” saudável.

Se o filme está pronto para ser lançado, porque vai estrear só em outubro e não nas férias de julho? Faltam salas para comportar a incipiente produção infanto-juvenil no confronto com os blockbusters norte-americanos?

A campanha de lançamento de um filme leva tempo. Durante metade do mês de julho tem a copa do Mundo e aí o Brasil pára, não adianta lançar o filme nesta época. Logo depois da Copa, é isso mesmo, vem uma avalanche de filmes grandes de fora. O mercado não comporta. Esse vai ser mais um desafio, lançar um filme infantil fora das férias.

Em 94 anos (considerando-se dados consolidados em 2002), apenas 2% dos 3.415 longas-metragens brasileiros foram feitos para crianças. Metade deles, com personagens ou personalidades ligados à televisão. É possível imaginar que estamos começando a viver um outro momento?

São números preocupantes mas acho que estamos começando a olhar para este segmento do mercado de outra maneira. O que vai mudar este cenário são filmes melhores, mais público nos cinemas, mais filmes.

O que você acha da produção audiovisual infantil brasileira? A baixa quantidade de filmes reflete desinteresse dos realizadores ou falta políticas públicas consistentes na área?

As políticas públicas são um entrave, o fato de ainda existir uma certa desconfiança do mercado interno, tanto dos investidores como do público em geral, em relação a produção chamada ïnfantil brasileira, também.

Quais os seus filmes infantis preferidos?

Os que não tratam a criança como imbecil.

Você tem filhos? De que idade? Se sim, eles frequentam cinema? Dedicam mais tempo à TV à internet ou ao celular?

Tenho um filho, José, de 8 meses. Não frequenta cinema ainda mas adora o trailer do Guarda-Chuva. Ele não entende nada mas adora. Acho que ele sabe que o filme é meu…

Crédito foto: Cleide de Oliveira


Publicado em 18 junho 2010


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