Uma seleção de filmes premiados no Festival ComKids suscitou boas reflexões para crianças, pais e produtores de cinema infantil. Nos pequenos, porque todos os filmes têm temas contemporâneos, como crianças que migram de um lugar para outro deixando para trás familiares queridos. Nos pais, porque tiveram contato com produções vindas de países como Argentina, Equador, Colômbia e Dinamarca. E nos produtores, porque assistiram na telona filmes com um formato diferente, pouco usado para contar histórias para crianças no Brasil.
O “Migrópolis”, de Karolina Villarraga, por exemplo, fala de migração, despedidas, encontro com outras culturas e entre crianças de países distintos. O mais curioso é que o curta-metragem colombiano tem como base depoimentos reais de crianças. Eles são apresentados ao espectador num formato documentário/animação, isso porque os personagens são bonecos animados.
Já “Amigos da Natureza”, de JeppeVig Find e Marie Ronn, é uma ficção que tem dois protagonistas – Anton e Ebba – que mais parecem estar vivendo uma história real, de quem cuida dos animais. Entre as ações da dupla de amigos está providenciar um ninho de coco de animais para dar abrigo a cobras d’águas e construir um ninho para patinhos, com direito a lâmpada para aquecê-los, tendo em vista a ausência da mãe pata.
ComKids e o cinema nacional
Beth Carmona, diretora do ComKids, uma iniciativa que fomenta a produção para crianças e adolescentes na América Latina, é uma pesquisadora. Sobre o cinema brasileiro para a infância, ela observa que a produção cresceu, mas que “temos que trabalhar muito ainda”.
“Tem talentos, mas falta oportunidade, falta dinheiro. E ainda, não basta ser cineasta, precisa um pouco mais. É necessário se colocar no lugar da criança para fazer filmes para elas”, pondera Beth Carmona, que cita como exemplo de talento brasileiro o diretor Cao Hamburguer, do “Que Monstro te Mordeu?” e do “Pedro & Bianca”, entre outros filmes. A inspiração para o Brasil, segundo Beth, deve ser a produção de países como Holanda, o melhor do mundo nesse quesito, Inglaterra e Estados Unidos.
A ComKids trabalha para contribuir com o avanço do setor, conta a diretora da iniciativa. “Além do festival, oferecemos cursos online e seminários temáticos, abertos e gratuitos, para formação de profissionais”, observa.
Fotos: Daniel Conzi