A estreia dos curtas catarinenses “Entre Gerações”, de Chico Faganello, e a “A saudade que terei”, de Kátia Klock, abriram as discussões do Fórum Cinema e Educação, realizado na tarde de ontem, dia 1, no CIC. Os dois filmes gravados com estudantes escolas de Florianópolis suscitaram debates entre alunos, professores e diretores de cinema sobre a experiência de participar de produções cinematográficas e outras formas de vivenciar o conhecimento. Ao final, houve distribuição de dois DVDs com curtas, como contribuição da Mostra de Cinema Infantil para a aplicação da Lei 13.006, que estabelece a exibição de filmes nacionais em escolas por no mínimo duas horas por mês.
Kátia Klock diz que o filme teve como ponto de partida o tema “afeto” trabalhado há dois meses na escola Sarapiquá, na Lagoa da Conceição, onde foi filmado. “O curta revela um olhar sobre o lugar e a cidade. Todos temos lembranças de escolas e professores que passaram pela vida. Fiz uma viagem no tempo e lembrei-me de quando tive que deixar uma escola em Brusque”, contou a diretora.
“A saudade que terei” traz a história de um grupo de estudantes do nono ano que se prepara para trocar de escola. São adolescentes cheios de expectativas com o mundo novo e, ao mesmo tempo emocionados com a despedida do local pelo qual passaram parte da vida.
A professora da escola, Maria Bastiani, destaca as “portas” que a experiência abriu para pensar o cinema e outras linguagens. “Esse tipo de atividade contribui para que os jovens se vejam de maneiras mais reflexivas. Com o olhar distanciado, percebemos que não é preciso consumir tanto, o importante é fazermos algo e que esse algo traga alguma relação com o outro”, assinala a professora.
Participaram do Fórum também os idosos filmados no curta “Entre Gerações”. O filme traz a experiência de um grupo de estudantes de ensino médio da Escola Municipal Batista Pereira, do Ribeirão da Ilha, em visita pela primeira vez ao Lar São Francisco, localizado nomes no bairro, para estudar a história do Brasil por meio do cinema.
“As tensões são muito grandes sobre a juventude hoje em dia. Que a juventude com sua alegria e dinâmica possa construir uma realidade mais humana. Parabéns aos jovens do nosso país”, afirma a idosa Léa Ramos do Lar São Francisco.
“O lar estava muito perto da escola e a gente nunca tinha visitado. Eles têm muito a ensinar e a gente a aprender. Mesmo com o silêncio, eles ensinaram muito”, conta o aluno Lucas Vigganiogo, 16 anos.
O filme fez os alunos refletirem sobre como chegarão à velhice. Chico Faganello revelou que se vê um velhinho sossegado, lendo livros e assistindo filmes. “Em países da Europa Central, a educação envolve idosos e adolescentes, aqui no Brasil, não aproveitamos essa forma de transmissão do conhecimento. A convivência entre eles pode ser algo muito construtivo para escolas e lares, como demonstrou o curta”, afirma Chico.
Para Bruno Ziliotto, professor de história da escola, a experiência pedagógica foi transformadora. “A equipe nos deixou livres e os alunos fizeram parte da produção. O cinema na escola alavanca práticas pedagógicas inovadoras. Espero fazer novas parcerias tão significativas quanto essa”, relata.
A diretora da Mostra, Luiza Lins, falou sobre a importância de filmes que promovam reflexões sobre a formação de pessoas numa perspectiva de mundo mais humano. “São dois filmes que envolvem educação, emoção, história e passagem do tempo. São muito sensíveis e remetem ao questionamento sobre o mundo que queremos”, enfatiza a diretora.
Com os DVDs de curtas em mãos, a supervisora educacional Raquel Matiola conta que cria um ambiente lúdico para simular uma sala de cinema na escola com saquinhos de pipoca e até ingresso e urna. “Eu assisto os curtas e depois seleciono para as séries escolares. A sessão escola é uma forma de garantir o acesso a crianças e adolescentes que não podem pagar por uma sessão de cinema tradicional.”
Os curtas serão exibidos novamente na Sessão Fiesc, na próxima quinta-feira, 7 de julho, às 9h, no auditório Egon Freitag, no prédio da entidade.
Fotos: Kélen Oliveira