A diretora do filme Maré, nossa história de amor, Lúcia Murat, estará em Florianópolis sexta-feira, 11, e sábado, 12 de julho, na 7ª Mostra de Cinema Infantil.
Na sexta, às 15 horas, ela participa de sessão do filme e debate com adolescentes dos projetos sociais encabeçados pelo Padre Vilson Groh, na capital catarinense. Sessão e debate acontecem no cinema do Centro Integrado de Cultura (CIC). No sábado, às 18 horas, ela também acompanha exibição do filme e conversa com o público da Sessão Jovem.
A proposta da Sessão Jovem é avançar na formação de público. “Percebemos que nossos espectadores do início da mostra, sete anos atrás, já estão crescidinhos. Temos que oferecer produções de qualidade para o público juvenil e trabalhar numa formação continuada para o audiovisual”, explica Luiza Lins, diretora da Mostra.
Maré, Nossa História de Amor é um musical e estreou em abril deste ano. O enredo envolve Analídia (Cristina Lago), filha de um chefe do tráfico de drogas preso, que briga pelo poder com o irmão de Jonatha (Vinícius D’Black), na favela da Maré. Separados pelo ‘apartheid’ entre as facções rivais, eles encontram no grupo de dança da comunidade, dirigido por Fernanda (Marisa Orth), um refúgio para o amor, a arte, o sonho e a possibilidade de uma vida longe do crime.
Diretora de filmes como O Olhar Estrangeiro (2005) e Quase dois irmãos (2004), Lúcia Murat fala, na entrevista abaixo, sobre o filme, a recepção do público jovem e a participação na Mostra. Confira:
Como está a recepção do público para o filme Maré, Nossa História de Amor?
Para mim, o mais interessante na divulgação do filme foi perceber quanto os jovens gostavam. Quando você cria o projeto, você vai sendo um pouco levada por ele e não tem uma definição muito precisa de público. Principalmente quando o projeto é autoral e você se permite deixar que o processo interfira no resultado. Neste caso, foi um filme feito em conjunto com os bailarinos, todos muito jovens. O resultado, que pude perceber durante o lançamento, foi o excelente diálogo que o filme trava com o público jovem.
Seu filme trata de um tema difícil, polêmico e, ao mesmo tempo, cotidiano para os jovens que vivem em favelas no Brasil. Fale sobre a escolha de trazer a história clássica de Shakespeare para o momento atual e trabalhar com a linguagem de musical, tendo como pano de fundo a violência.
A idéia de fazer um musical era antiga, pois fui bailarina quando jovem e sempre adorei musicais. Pela minha vida e cinematografia não tinha vontade, no entanto, de fazer apenas uma comédia romântica. Vi uma vez um grupo de dança da Favela da Maré e aí me veio a idéia de fazer um musical numa favela. Como esta favela estava dividida entre duas facções do tráfico de drogas, pensei então em fazer uma adaptação do Romeu e Julieta. O trabalho foi demorado, com seis meses de ensaios com um grupo de bailarinos – escolhidos entre os melhores das diversas comunidades do Rio – e o resultado eu diria que é muito mais uma recriação da obra de Shakespeare, pois foi o resultado deste trabalho de criação coletiva.
Qual a sua opinião sobre o papel da produção audiovisual na formação de crianças e de jovens?
Acho fundamental que o cinema faça parte da educação de uma criança e de um jovem. A única forma de combater a massificação da cinematografia dominante, recheada de blockbusters com a mesma linguagem, quase sempre violenta, é permitir ao jovem que veja outros filmes, que se eduque através de outras linguagens. Não se pode pedir a um jovem que seja sensível a uma outra linguagem se ele sempre foi massacrado por um determinado tipo de filme. Por isto, acho fundamental que na educação brasileira os jovens possam assistir a filmes brasileiros, iranianos, franceses e assim sejam capazes de “entender” diferentemente o mundo e as diversas formas existentes de contar histórias e tratar dos sentimentos humanos.
A Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis chega à sua 7ª edição pensando também no público jovem, um segmento carente de boas produções. Qual a sua expectativa sobre a exibição do filme na Mostra?
É a primeira vez que o filme vai passar num festival dedicado a jovens. Agora, tenho também alguns convites internacionais de filmes para jovens. Mas Florianópolis será o primeiro. Então, espero que ele realmente retome o diálogo com os jovens que pudemos observar durante o lançamento.
Lançamento de Maré, nossa história de amor nos cinemas: 18 de julho/2008.
Site oficial do filme: www.mareofilme.com.br