Michel Ocelot em Florianópolis

Criador de uma premiada cinematografia autoral de animação, que ganhou popularidade com o personagem Kirikou, o francês Michel Ocelot desembarca nesta quinta-feira, 9 de julho, na capital catarinense para participar da 8ª Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis. A vinda do diretor faz parte das comemorações do Ano da França no Brasil, com chancela do Comissariado Francês e Ministério da Cultura.

É a primeira vez que Michel Ocelot vem à América Latina e a 8ª Mostra de Cinema Infantil presta uma homenagem ao cineasta francês. Seus curtas e longas metragens, como Kirikou e a Feiticeira, Kirikou e os Animais Selvagens, Príncipes e Princesas e Azur e Asmar têm destaque na programação.


Trecho de Kirikou e os animais selvagens, de Ocelot

Uma exposição de cartazes e storyboards dos filmes, no hall do Teatro Governador Pedro Ivo, mostra parte de sua trajetória. E mais: Ocelot ministra oficinas de animação para crianças e estudantes de cinema, acompanha sessões de seus curtas com dublagem ao vivo, conversa com o público depois da exibição e faz palestra sobre seu trabalho.

A presença de Michel Ocelot em Florianópolis reafirma a proposição da Mostra em exibir obras de qualidade e de todas as nacionalidades, que sejam dirigidas a crianças e adolescentes.

Sobre Michel Ocelot

Michel Ocelot é conhecido pela qualidade dos cenários e grafismos de seus filmes e pelas temáticas humanistas da diversidade cultural. A consagração do cineasta ocorreu em 1998, com Kirikou e a Feiticeira, um conto africano, que relata a história de um herói minúsculo.Michel Ocelot nasceu na Côte d’Azur, mas viveu dos 6 aos 12 anos em Guiné, na África, onde conheceu a lenda de Kirikou.

Depois da capital catarinense, o cineasta segue para Montevidéu, no Uruguai, para participar do Divercine (Festival Internacional de Cinema para Crianças e Jovens). Ocelot retorna no final de julho para o Anima Mundi (Festival Internacional de Animação), no Rio de Janeiro e São Paulo.

Confira entrevista com Michel Ocelot:

Há uma frase do escritor russo Leon Tolstoi que ficou célebre: “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”. Esta idéia se aplica ao personagem Kirikou?

Michel Ocelot: Gosto bastante desta frase de Tolstoi. De fato ela pode se adaptar bem ao vilarejo de Kirikou, um vilarejo simples onde todo mundo se reconhece. Mas pode-se também evocar o oposto desta ideia, o exotismo. Eu misturo voluntariamente as duas: coisas vividas que todo mundo compreende e, contos de fadas à la mil e uma noites que todo mundo gosta.

Numa entrevista o senhor declarou que não tinha intenção de fazer Kirikou 2, mas o personagem não lhe deu trégua e se impôs. Kirikou continua a lhe ‘perseguir’ e lhe proporcionar bons frutos, como livros e jogos. O senhor pretende fazer mais algum filme com esse personagem?

Ocelot: Em Kirikou e a feiticeira, contei a história que eu queria contar. O que fiz em seguida foi feito com a influência de outros. De um lado os produtores-distribuidores-editores, de outro o público, simplesmente, homens e mulheres, crinças e adultos, brancos e negros, e os outros. Ainda com essas influências, vou fazer provavelmente seis pequenas aventuras da criança no vilarejo para a televisão. A última ‘aventura’ de Kirikou, que me deixou muito feliz, é que existe hoje uma versão de Kirikou e a feiticeira em Swahili. É a primeira vez que se faz uma dublagem desse tipo, nunca ouvi falar de um outro exemplo de animação dublada em uma língua africana. E meu filme vai tocar diretamente ainda muitas pessoas…

E foi seu trabalho com Kirikou que inspirou Björk a lhe chamar para trabalhar junto no álbum Volta, em 2007, correto? Como foi esse trabalho desenvolvido para a artista?

Ocelot: É verdade. Björk veio até mim graças a Kirikou. Foi tão surpreendente que achei primeiramente que fosse uma piada, mas Björk veio realmente me ver, com discrição e respeito, e ela me deixou fazer tudo o que eu queria. Foi uma experiência extremante agradável.

O Brasil ainda produz animação de uma maneira bastante incipiente. Como o senhor vê, já que participa ativamente da Associação Internacional de Filmes de Animação, o desenvolvimento desta arte no mundo? Quais são os países que estão despontando na animação?

Ocelot: Acho que a animação se desenvolve muito bem hoje em dia. E se o Brasil não entrou ainda totalmente nessa dança, isso vai acontecer em breve. Existe o destaque enorme dos Estados Unidos, do qual a cinematografia dita as leis em quase todos os países do mundo. Em geral, gosto muito das produções de Pixar. Outro grande país é o Japão, citaria facilmente Myasaki e Takahata. Este país do desenho contribuiu muito para o desenvolvimento da animação. Ele obteve resultados que todos invejam: a animação é consumida por toda população, crianças e adultos. Mais particularmente, ela desenvolveu temas para adolescentes e adultos que antecedentemente pareciam proibidos à animação. Parece que a França se comporta bem nessa área, um elemento de destaque é o número de escolas de animação e o número de estudantes brilhantes.

Uma parte dos desenhos da animação de Kirikou 2 foi feita no Vietnã, outra parte na Letônia. Por que o senhor optou em trabalhar com desenhistas de países tão distantes da França?

Ocelot: Não fiz nenhuma escolha. Trata-se apenas de orçamento. O produtor escolheu animar estes filmes em países mais baratos que a França. O que não é um modo completamente satisfatório. Kirikou e a feiticeira foi fabricado em cinco países diferentes, fiquei esgotado com as viagens e não pude estar presente em todos os lugares onde deveria ter estado. Azur e Asmar foi feito totalmente em Paris, todos os artesãos ao meu redor, e pude atingir então uma qualidade que não podia atingir de outra maneira.

Em sua opinião, o que é indispensável para se narrar uma história para criança?

Ocelot: É indispensável não fazer uma história para crianças. Deve-se fazer histórias que, antes de tudo, nos encantam a nós mesmos, e deve-se ter em mente que as crianças precisam aprender e registrar uma enorme quantidade de informações, de saberes de cinco mil anos de civilização humana. Deve-se cuidar apenas, tratando-se de todos os assuntos, para que se faça sem lhes fazer mal.

Qual a imagem que o senhor tem da Cultura Brasileira?

Ocelot: A primeira imagem que tenho é a cor. A segunda imagem visual e moral é a miscigenação. É um elemento que me evoca coisas, e cujo êxito é bem brasileiro (mesmo se passou por momentos terríveis). A palavra Brésil me evoca também uma língua agradável e uma música popular que tocou o planeta. É um país que parece ter de fato o sentido da festa e do corpo. Alegram-me esses quinze dias no Brasil, dos quais trarei ideias menos vagas.

(Publicada no Diário Catarinense no dia 07/07/2009)


Trecho de Les 3 Inventeurs, de Michel Ocelot

**Confira as atividades com Michel Ocelot na 8ª Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis:

Exposição de storyboards e cartazes
(26 de junho a 12 de julho)
[Hall do Teatro Governador Pedro Ivo]

Oficinas de animação:
sexta-feira • 10/julho
[Aliança Francesa, Centro da Capital]
Crianças de 8 a 12 anos
Estudantes de cinema (não há mais vagas)
Informações: 3234-7407

Exibição de filmes e bate-papo com o diretor:

sexta-feira • 10/julho
[ Cinema CIC – aberto ao público ]
19h
CURTAS FRANCESES • 51’
DUBLAGEM AO VIVO

Les 3 Inventeurs (de Michel Ocelot, França, 1980, 13”)
La princesse insensible (de Michel Ocelot, França,1986, 18′)
La Belle fille et le sorcier (de Michel Ocelot, França, 1989, 5′)
L’Invité (aux noces d’Azur et Asmar)(de Michel Ocelot, França, 2008 15′)
Após a sessão palestra com o diretor francês Michel Ocelot.

SÁBADO • 11/JULHO
[ Teatro Governador Pedro Ivo ]
10h (a partir de 4 anos)
LONGA

Azur & Asmar
de Michel Ocelot (Animação, França, Bélgica, Itália e Espanha, 2005, 99′)
Azur e Asmar foram criados por Jeanne, mãe de Asmar. Um, louro de olhos azuis, outro, moreno de olhos pretos. Os meninos cresceram como irmãos, encantados pelas histórias sobre a Fada dos Djins. A partida de Jeanne separa os dois meninos. Quando adultos eles se reencontram, desta vez como rivais na busca pela Fada, que os leva a atravessar o reino repleto de perigos e aventuras.

SÁBADO • 11/JULHO
[ Teatro Governador Pedro Ivo ]
14h (a partir de 6 anos) DUBLAGEM AO VIVO
CURTAS FRANCESES • 51’
Les 3 Inventeurs
de Michel Ocelot (França, 1980, 13”)
Três inventores criam belas máquinas, mas quando as mostram às pessoas, elas não as querem, e acham que eles são bruxos.
La princesse insensible
de Michel Ocelot (França, 1986, 18′)
Príncipes tentam distrair uma princesa que nunca se sensibiliza pelos números talentosos apresentados no teatro.

La Belle fille et le sorcier de Michel Ocelot (França, 1989, 5′)
“Sou feia, estou sozinha, estou entediada.” Em três segundos tudo vai mudar.
L’Invité (aux noces d’Azur et Asmar)
de Michel Ocelot (França, 2008, 15′)
Para as crianças de uma classe de Beirute, que não se contentaram com o final de Azur e Asmar.
Após a sessão bate-papo com o diretor Michel Ocelot.

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Publicado em 09 julho 2009


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