Cinco por cento da população brasileira é formada por pessoas surdas. Essa comunidade e suas necessidades diante de uma sociedade que ainda a segrega, ganham visibilidade em Crisálida, curta bilíngue produzido em Santa Catarina, cujo protagonista é interpretado por um ator surdo. O curta integra a Mostra Competitiva e foi exibido durante a semana na Sessão Escola. Trata-se da primeira ficção bilíngue produzida no Brasil voltada para surdos e ouvintes e acessível para os dois públicos.
Com direção de Serginho Melo, Crisálida conta a história de Rubens, um garoto surdo de 11 anos, interpretado por um ator surdo, que tem seu universo de pré-adolescente repleto de dificuldades e que é modificado ao conhecer a cultura surda e a Libras.
“Crisálida significa o tempo que a lagarta fica em silêncio, envolvida no seu casulo até se transformar em borboleta. É uma metáfora, pois o surdo quando não sabe Libras vive no seu casulo silencioso e solitário. Só após aprender a língua de sinais é que ele rompe a sua Crisálida e começa a entender o mundo e a se comunicar”, explica Alessandra Rosa Pinho, roteirista e produtora executiva.
Estudante de Letras Libras na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), ela trabalha há mais de 15 anos com produção audiovisual. “Comecei a estudar, ter contato com pessoas surdas e descobri muitas histórias interessantes”, revela.
O curta é uma reedição de um projeto piloto para uma série com vários episódios, contemplada no Prêmio Catarinense de Cinema, e que está em desenvolvimento. Os realizadores buscam um canal privado para ser parceiro da série.
Inclusão
Todos os recursos disponíveis para acessibilidade fazem parte da obra. Os diálogos são em português e em algumas cenas ocorrem em Língua brasileira de Sinais (Libras). Há também legenda para surdos e ensurdecidos e janela de língua de sinais.
A intenção é divulgar a Libras e a importância da sua disseminação. “Esse é um filme bilíngue na essência, já vem com todos os recursos. É um projeto inovador e ousado para que tanto surdos quanto ouvintes possam sentar no mesmo sofá e assistir juntos”, explica a produtora.
Alessandra assinala que existem muitos materiais educativos que envolvem a cultura surda, mas que faltam produtos de entretenimento. Ela explica ainda que existem outros filmes sobre o tema, alguns produzidos em língua de sinais com legenda em português, e outros em português com tradução em Libras. “Mas ficção bilíngue criada para surdos e ouvintes e acessível para os dois públicos é o primeiro”, aponta a produtora.
Serginho Melo afirma que a população surda e sua cultura são invisibilizadas no Brasil. Segundo ele, o público se identifica com a história e cria empatia com o protagonista, uma vez que o bullying ao qual o personagem está exposto, é uma realidade para muitas crianças. “Há cenas fortes de bullying que vão além da história do surdo. As crianças se colocam no lugar e percebem que isso não é legal”, afirma.
Texto: Paula Guimarães