Cerca de 60 professores, pesquisadores e produtores de conteúdo participaram na manhã de segunda, 28 de junho, do 3º Fórum de Cinema e Educação, dentro da programação da 9ª Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis.
A discussão em torno do tema Pesquisa e Experiências foi dividida em dois momentos: na primeira mesa, com Rosa Maria Bueno Fischer (UFRGS), José de Sousa Miguel Lopes (UEMG/UEM-Moçambique) e Monica Fantin (USFC), com a mediação de Gilka Girardello.
Em seguida, o mineiro Wagner Merije relatou os resultados do projeto Minha Vida Mobile (MVMob), que dá oficinas a estudantes da rede pública de ensino para estimular a produção de vídeos com o celular e o seu uso como ferramenta de apoio pedagógico.
Na mesma mesa, Milene Gusmão apresentou a experiência da Rede Latinoamericana de Educação, Cinema e Audiovisual, criada em 2009 para articular agentes e instituições com atuação na área.
Debates e palestras foram seguidos do lançamento de duas publicações do Centro de Ciências da Educação (CED) da Universidade Federal de Santa Catarina: o livro Práticas culturais e consumo de mídia entre crianças, organizado por Gilka Girardello e Monica Fantin, e o dossiê Educação, Comunicação e Tecnologia, organizado por Monica Fantin, Gilka Girardello e Elisa Quartiero para a Revista Perspectiva.
A importância do cinema na formação da criança e o impacto das novas mídias na percepção dos alunos dominaram as conversas.
Segundo Monica Fantin, os recursos audiovisuais são os mais utilizados nas escolas, mas o filme é usado com frequência apenas para cobrir a ausência do professor. Monica relatou os resultados de sua pesquisa em mídia-educação, iniciada em 2003 com frequentadores da Mostra de Cinema Infantil. Para ela, o desafio é assegurar a formação de um usuário das tecnologias que seja crítico e criativo. “Cinema que educa é o que emociona, diverte e faz pensar: pensar sobre o cinema em si e sobre as mais variadas experiências.”
Milene Gusmão identifica uma desconfiança mútua entre profissionais da Educação e do Audiovisual. E considera que “os formatos de aprendizado miméticos”, que manifestam-se de maneira “dúbia, híbrida”, podem apresentar “problemas de transmissão de valores, mas educam”.
Wagner Merije citou dados que mostram a expansão da base de celulares hoje na sociedade, quase três vezes superior ao número de computadores. Comentou a disseminação de leis que proíbem a presença dos telefones móveis nas escolas e propôs que a imagem de “vilão” e signo de dispersão seja substituída por “usos criativos, para construir conhecimento”, como experimenta com o projeto MVMOB.
Rosa Maria Bueno Fischer defende um esforço de compreensão da “relação da criança e do jovem com a parafernália midiática”. Segundo ela, a “criança busca na televisão respostas a vários dos temas que não são tratados no espaço escolar ou familiar”.
José de Sousa Miguel Lopes mencionou a recorrência de filmes consagrados à infância, “um conjunto complexo que pode ser definido como gênero”. Na sua visão, a educação formal tem papel fundamental na formação do olhar. “Se a escola ensina a criança a pintar, não pode deixar de se apropriar da capacidade de ensinar cinema.” José Miguel acredita que o professor deve valorizar o filme reflexivo, em contraponto àqueles “que instigam violência e consumismo desenfreado”. Para ele, “a escola não tem direito de reforçar banalidades.”
Crédito das fotos: Cleide de Oliveira