Joziléia Kaingang (SC), André Baniwa(AM) e Rita da Silva (SC) foram os convidados da Conversa do segundo dia do 10º Circuito de Cinema Infantil
“Os povos indígenas são reconhecidos pela resistência. Nós somos povos de resistência. Há 521 anos a gente resiste. Como André Baniwa disse éramos milhares, hoje não chegamos a um milhão, mas a gente resiste”, disse a professora e antropóloga, Joziléia Kaingang (SC), da etnia Kaingang. O debate “Povos indígenas: conhecer, respeitar e se encantar” aconteceu no segundo dia de programação do 10º Circuito de Cinema Infantil. A Conversa também teve a participação de André Baniwa (AM), vice-presidente da Organização Indígena da Bacia do Içana (OIBI), e da cineasta e antropóloga, Rita da Silva (SC). A mediação foi da diretora do Circuito de Cinema Infantil, Luiza Lins.
Enquanto o debate do Circuito acontecia na tarde desta terça-feira (15), a resistência era necessária em frente ao Congresso Nacional. Indígenas de todo o país estavam reunidos para protestar e tentar diálogo para reverter a PL 490, que tramita na Câmara dos Deputados. A proposição legislativa, defendida pela bancada ruralista, prevê uma série de modificações nos direitos territoriais garantidos aos povos indígenas na Constituição Federal de 1988.
“É uma violência tremenda contra os povos indígenas”, ressalta Joziléia Kaingang, que enfatizou a importância do diálogo proposto pelo Circuito de Cinema Infantil para construir uma outra ideia sobre o povo indígena.
“Embora venham as derrotas, já tivemos muitas, a gente vai continuar resistindo e a gente quer muito contar com outros parceiros, com outras pessoas que possam contar nossa história, valorizar as nossas memórias, valorizar os nossos povos e seguir com a gente por um mundo que seja adequado para todos nós. Que possamos proteger o mundo que vivemos, proteger a natureza e que a gente possa cada um de nós e todos juntos buscar o bem viver, como defende André Baniwa”, disse.
A Kaigang falou de suas crenças e cultura: a organização social dos Kaingang é a divisão nas metades exogâmicas Kamé e Kairu. “Kamé é a lua, Kairu é o sol. Kamé é a metade guerreira, mais lenta. Kairu é a metade mais inteligente, onde estão os líderes. As metades se complementam”, exemplificou Joziléia, que contou pertencer à metade Kamé.
Assista ao debate no canal de YouTube da Mostra
Em busca do bem viver
André Baniwa também falou sobre a cultura do seu povo: “temos lugares sagrados ao longo dos rios, não se pode mexer ou destruir, são os lugares onde as espécies se reproduzem”. Falou também do poder da palavra usado para curar doenças, da utilização de ervas medicinais presentes na floresta e das rezas tradicionais.
“Um sistema de conhecimento é manejado pelas mulheres, outro sistema manejado pelos homens, mas sempre se complementando”, explicou.
O líder Baniwa defende a interculturalidade que é a troca de conhecimento entre povos, e a importância de buscar o bem viver. “Eu tenho trabalhado muito o conceito do bem viver, que é a capacidade de reunir as pessoas na direção da prática de coisas boas. Muitos conflitos existem porque não se busca o bem viver: fazer o bem, trabalhar junto, na mesma direção”, completou.
A fala de André Baniwa – simples, generosa e sensível – trouxe também o lado difícil da sua caminhada. “O ataque aos nossos direitos é muito triste. A gente vê claramente que é uma ruindade, porque sabem o que estão fazendo. É inimizade, essa é a parte triste”, lamentou.
“Minha filha, a cultura dos povos originários é o carinho”
A cineasta e antropóloga Rita da Silva trouxe um olhar de fora, porém sensível. Ela contou sobre a sua trajetória relacionada aos povos originários e falou de seus trabalhos junto aos povos indígenas do Brasil, da Colômbia, do Paraguai e da Bolívia. Nesse percurso, contou a cineasta, muitos foram os aprendizados.
“Uma das coisas que as crianças nos ensinam é que a natureza é fundamental. Todos nós somos meio selvagens, precisamos da natureza, ela é nossa base”, enfatizou.
Rita compartilhou um ensinamento recebido de um velho ancião do Rio Negro: “Ele disse: minha filha, a cultura dos povos originários é o carinho”.
Para ela, chegou o momento de todos conhecerem de perto a cultura dos povos indígenas para começar a valorizá-los. “E está na hora de a gente olhar para essa história e contar de forma diferente. O audiovisual é uma ferramenta muito potente para isso”, concluiu.
No Brasil
São 305 povos indígenas
Cerca de 900 mil indígenas
274 línguas indígenas no país
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📌De 14 a 19 de junho, o 10º Circuito de Cinema Infantil tem na programação filmes, oficinas de audiovisual e debates. É dedicado a educadores e educadoras e interessados em cinema e educação.
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