“Qual escola as crianças querem encontrar?”, questiona educadora sobre o retorno às aulas na pandemia

Debate de abertura do 10º Circuito de Cinema Infantil abordou os desafios e as reinvenções na educação causados pela pandemia.

Os desafios e as reinvenções na educação causados pela pandemia estavam no centro do debate nesta segunda, 14 de junho, no primeiro dia de programação do 10º Circuito de Cinema Infantil. A presidente da Avante Educação e Mobilização Social, Maria Thereza Marcílio, e a socióloga Helena Singer, convidadas da Conversa “Pandemia, escola e outros agentes da educação”, deram ênfase para a escuta da criança e para a construção coletiva como maneiras saudáveis para o retorno às aulas presenciais. Participaram do debate também Simone Cintra e Carmen Nunes, do Núcleo de Formação, Pesquisa e Assessoramento da Educação Infantil de Florianópolis, e a diretora do Circuito Luiza Lins. 

Para a educadora Maria Thereza, o desafio da volta às aulas presenciais pode ser enfrentado escutando as crianças. “Para onde elas querem voltar? O que elas querem e esperam encontrar lá? Vejam o que eles querem ver na escola, isso é uma pista para o que podemos fazer”, afirma. 

A escola precisa ser reconstruída e entender seu papel político na sociedade, reflete Maria Thereza. “O grande desafio é a escola ser articuladora de políticas públicas e de serviço para a população. A gente não vai sair disso sozinho, a gente só sai de mãos dadas com a saúde, com a proteção, com o transporte, inventando e pressionando porque nada vai vir de graça”, completa. 

Durante a apresentação, a educadora demonstrou como o pensamento da educação como política pública é recente no Brasil, iniciado na Constituição de 1988, e como essa discussão precisa atingir toda a sociedade e não só os educadores. A educadora fez questão de enfatizar que “hoje, com a pandemia, não podemos falar só da educação, mas do direito à vida e à saúde. Esses três direitos se entrelaçam de forma absoluta”. 

Volta às aulas 

Para que o retorno às atividades escolares funcione tanto de forma remota quanto presencial, Maria compartilhou algumas estratégias, como:

  • Garantir o direito à educação de qualidade para todas as crianças.
  • Manutenção de vínculos
  • Apoio e Valorização das famílias
  • Conhecer a situação de cada criança e famílias
  • Muita escuta e apoio. 
  • Fazer formações para os professores 

“É importantíssimo ter comitês nas escolas, com integrantes da saúde, da proteção e assistência”, afirma a educadora. 

Para ela, além dos desafios é preciso focar na esperança. “Com o retorno temos que enxergar como uma oportunidade única de trazer a vida para dentro das escolas, não só pensar que as crianças perderam com o afastamento e que tem que correr com os estudos, não. A criança não perdeu seu lugar, ela não parou de brincar e de aprender, ela só estava fazendo isso em outro lugar. Vamos recuperar o afeto nosso, entre nós e com as crianças”. 

A gente precisa trocar o pneu do carro, mas com ele andando

A segunda apresentação foi da socióloga e vice-presidente da Ashoka para América Latina, Helena Singer, que trouxe esperança à plateia de professores que assistiu à conversa. Para Helena, além da degradação ambiental, da desigualdade social e da rachadura democrática, a pandemia também escancarou um cenário que já ia de mal a pior, a estrutura educativa usada há décadas sem nenhum sentido e sem trazer resultados satisfatórios na formação de crianças e jovens brasileiros.

“O formato da escola como era não pode ser mais retomado porque aprofunda as desigualdades. Agora temos que olhar para o que não é solução, como certas escolas estão fazendo, colocando um professor fazendo tudo ao mesmo tempo, dando aula para alunos presenciais e para uma camêra para os remotos. Boa parte dos alunos não vai aprender nesta situação.”, diz Singer. 

Outras recriações podem mais atrapalhar do que solucionar os problemas enfrentados nas escolas durante a pandemia. “Outra não solução são as plataformas usadas pelos professores, que padronizam o que o docente tem que seguir e fazer, isso dificulta o vínculo, a comunicação com os estudantes. Outra não solução são as avaliações diagnósticas que desconsideram os aprendizados das várias dimensões e experiências de vida de cada aluno”, afirma a socióloga. 

Por fim, Helena trouxe exemplos de reinvenções criadas por professores e alunos em todo o Brasil com objetivo de driblar o prejuízo educacional pela pandemia. A socióloga apresentou a campanha “Reviravolta da Escola” que mostra os caminhos possíveis para se recriar a escola necessária para o mundo pós-pandemia. 

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De 14 a 19 de junho, o 10º Circuito de Cinema Infantil tem na programação filmes, oficinas de audiovisual e debates. É dedicado a educadores e educadoras e interessados em cinema e educação. 

O evento é 100% acessível em LIBRAS, on-line – pelo canal de Youtube da Mostra e pelo Facebook, e gratuito.Confira a programação em  www.mostradecinemainfantil.com.br/circuito

Veja o bate papo na íntegra:


Publicado em 14 junho 2021


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